domingo, 11 de janeiro de 2009

Fernando Pessoa Ortónimo



Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.


Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei


Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,


Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,


Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.


E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.


Fernando Pessoa


E aqui…Eu vi, vi por palavras que a angústia me corrói neste desesperançar de viver-morrer, num amontoado de pensamentos sem o mínimo vislumbre, sem uma fugaz escapatória quase possível… E o aprisionamento a este corpo atrofia-me a nesga quase possível da aragem para o lado de lá…Enquanto jovem que sou, procuro o meu ser-ter-estar, um propósito sem propósito, um rumo, zumbido de zéfiro, ou o decifrar a nuvem que tudo obnubila.As palavras mostram-escondem que a minha deriva é contínua… na busca de o não sei o quê… Como posso anular o meu ser antes mesmo de o conhecer, até mesmo, desejar a morte? Não sou suicida, apenas quero um bilhete de ida, de “barco” para o “porto” e não voltar…Vejo muros pintados pela espessa tinta das sombras: elas rodeiam-me, e eu, sem saber porquê, continuo à deriva, em fuga. Então, por que existo? Há sentido? Há razão? A minha loucura não é suficiente para entender isto e aquilo e aqueloutro?Para onde quer que vá não haverá o que procuro e morrerei como cheguei ao mundo - sem sentido.Olharei, sem nada ver; apalparei sem nada sentir; beberei sem parar; respirarei o ar viciado de uma luz tão ténue que nem a vejo; abrirei os ouvidos sem nada escutar e todo o meu corpo está alquebrado pela fúria da palavra.

3 comentários:

JoanaAmorim disse...

Fernando Pessoa , um grande poeta , uma admiraçao.

Fátima Inácio Gomes disse...

Mas que bela "análise"!
Não há teste, exame ou estudo académico que chegue onde chegou o que escreveste. Tu não leste, tu viveste, o poema.

Belíssimo, Edd.

letras&manias disse...

IRREMEDIAVELMENTE RENDIDA à fusão destas palavras complexamente simples.
Os Estados de alma, de espirito que são aqui expostos, outros que ficaram inerentes a quem os sentiu e viveu ("o poeta é um fingidor"), pois os sentimentos, as verdadeiras emoções continuam a não serem medidas pelas palavras. Se aqui quisesse expor o turbilhão de emoções que senti a ler estes pensamentos não seria capaz de o fazer, visto que o emaranhado de tristeza, alegria, memorias foi vastissimo... apenas, direi continua a escrever, a tornar uma parte de ti inapagavel atraves de todos os teus textos, assim quando um dia te sentires perdido saberás que ali está uma parte de ti.:D

Este comentario não se dirige a nenhum texto em especial, todos eles tocam o receptor se este assim o pretender.