sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Lua Nova

 

No mais fundo dos precipícios, onde a penumbra me cobria
ninguém me olhou, com ou sem olhos de ver, era eu nada mais nada menos que uma fonte seca.
Onde nem água nem fogo fluíam, elementos que outrora secaram.
Mesmo no mais profundo dos silêncios, onde até a morte que rastejava lentamente
tinha medo de se fazer ouvir
eu ouvia quem me chama-se, lá no topo, eu tentava focar
mas nada via, rostos marcados a negro que passavam fugazmente como ilusões.

De um momento para o outro, um calor, uma névoa levanta-se e eu não sentia o meu corpo.

Tudo branco.

Que claridade é esta? Que fogo me consome e que água me acalma?

Nada via, fechava os olhos para tentar entender, mas nisso vinha a escuridão.
Era uma palavra que não queria e não voltaria a sentir, implorei que conseguisse para sempre ficar
sem pestanejar, pois um milésimo de segundo que fosse sem aquele meu novo mundo era uma eternidade.
Neste novo imenso por explorar, só te via e ouvia, enquanto me olhavas e sussurravas com
uma delicadeza tal que me senti perfeito.

E os segundos pareceram décadas, era imortal!

Até que comum a tudo, o mundo desvaneceu-se, desapareceu e eu rastejava, praguejava e esquartejava as paredes do precipício, tentando escalar sem nada subir.
A mesma lua coberta de preto voltou a assombrar-me, e enquanto me gozava eu deixei-me ficar. Espero pelo calor e névoa da lua nova,
e pela música que encanta e aquece as minhas veias.
Não sei nada de nada, não sei o que fui ou o que deixei de ser.



sábado, 3 de outubro de 2009

Fui mas fiquei, agora permanecerei.



Ela estava longe, distante como uma luz no universo...
O caminho encurtava-se, já lhe sentia o peito a encher-se e esvaziar-se conforme o sopro de vida.
Via os lábios, de um cor de rosa tão perfeito, que faria chorar qualquer cor.
Aproximava-se cada vez mais.
Ela não se movia, era eu que corria.
Estava quase a chegar, quando flutuei no seu aroma.
Era como o carvalho humedecido pelo orvalho da manhã, fazia-me sentir livre.
Já sentia o calor emanado da sua pele.
O meu coração palpitava com uma força tal, que, se não estivesse anestesiado
talvez pensasse que estava a tentar fugir.
Ela abriu os braços.
Fiquei deliciado, sorri e corri ainda mais.
Era uma sombra, nas sombras.
Ia tocar-lhe, mas nada aconteceu, ultrapassei-a era como se ela não estivesse lá.
Ela virou-se enquanto chorava e gritava "NÃO, PORQUÊ? PORQUÊ QUE TE FOSTE SEM MIM?"
Olhava para um corpo inerte, imóvel, rijo.
Com uma cara fria e pálida, branca como cal.
Os seus olhos ficavam baços, com a cor castanha avelã a esgotar-se a cada segundo que passava.
Eram-me tão familiares.
Foi ai que o deixei de sentir. O coração que fugia. Libertou-se com a ultima batida.
Ali, estendido aos pés daquela que jamais poderia tocar outra vez, estava eu...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Escuro Demais


Por favor
Quero o meu amanhã, imprevisível e discreto
Quero tecer os meus laços, passo a passo.
Dava tudo o que tenho e tudo o que não tenho
Para viver! Não, viver não, apenas:
Quero respirar e sentir todas as fragrâncias
Quero ver cada silhueta cada contraste
Quero ouvir cada som ou sinfonia
Quero sentir, apenas sentir;
Sentir-me electrocutado por todas as vibrações
Ou algo que se assemelhe

GRITAR EM GRANDES GRAVES E AGUDOS TONS!

No entanto...

Sou um fardo, um caminhante das sombras,
Sombras essas bem iluminadas
Mas parece que a pupila não consegue focar
Estarei cego?
vagueio e vagueio

Sem rumo.

Abstenho-me do cheiro do toque dos sons
Da visão nem vale a pena falar.

Está tão escuro, escuro demais.

domingo, 28 de junho de 2009

Irremediável



Hoje sonhei com ela
Não sei porquê
Não sei porque razão
Esta coisa não se'me larga

Fico preso, Fico irremediavelmente preso
Ao beijo, ao fugir dela
Só de escrever isto já prova
que estou aprisionado
É tão demente de mim
Ver isto e ser assim

É melhor nem pensar
É melhor voltar a ser criança

Uma criança sabe amar
Eu cá já não sei
Porque se ela me foge
Que amor tenho eu para dar?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Fita! (ALERTA)



Podes parar o mundo e tentar mudar-me a mente.
Podes parar o mundo mas não me mudarás!

Estes dias que correm, trezentos e sessenta graus vezes um, vezes dois, vezes três…
Não passam de ilusões de óptica! A fita de cinema está destinada a parar num qualquer ponto crítico, embora esta fita não tenha um fim, ela acaba por tê-lo. Nem que se rasgue, nem que a queimem, ou a cortem!
Nesta fita as aves voam ao contrário do planeta em si próprio, quererão elas mudar algo? Voltar o planeta de costas, retroceder o tempo talvez!? Este planeta onde o crepúsculo é constante, onde os três estados se encontram, dia, noite e ausência de ambos!
Caminhamos para nos sucumbirmos, à nossa mão cerrada em volta da nossa garganta. O fim que me impõem, não é o fim que desejo.

ALERTA! ALERTA! Código vermelho!
(retomem a suas casas, e permaneçam dentro destas, isolem-se na cave se a tiverem, qualquer contacto com o exterior será punido)
ALERTA! ALERTA! Código vermelho!

Somos livres, disseram todos aqueles que quiseram falar por nós!
E no fim seremos apenas cães presos, vagabundos de uma Terra que já foi nossa, sem qualquer distinção de uma raça de uma pobreza ou pensamento. Esta Terra já não é nossa, está podre, contaminada por modas, doenças, guerras, e químicos!
Quero ser um átomo, quero uma explosão outra vez, quero ser oxigénio ou hélio!
Quero viver, quero mesmo.

terça-feira, 24 de março de 2009

Era uma vez um fim!


Palavras silenciadas
Do que se passou e há de vir
Memórias, profecias fechadas,
Até o meu cérebro ruir!

Morre o querer esquecer
Nem que tenha de temer.

Morro contigo quando te fores!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Recolhe-me "Mania"


Dá-me a tua vida para me poder matar,
Estou quase morto que nem a maré baixa do mar!
Um cão a arfar!
Um turista de vida a contemplar.
Sem poder usufruir ou desejar.
Nem um grito para apaziguar!

O horizonte está perto!
Porque eu sou ele, isso é certo.
O meu corpo ilustre a descoberto
Mas ninguém o vê nem de olho bem aberto.

Não voo, nem com o vento
Tempestades deixaram de ser um contra-tempo
O caracol ficou mais lento!
Espero morrer de tempo.

Ironia, leve e sombria
Chama-me a sinfonia

Orquestra de violinos e tambores
Esquecem-se as cores

Morro sem existir
Morro sem saber o que há de vir!
Nota: Mania - deusa romana dos mortos, que é mae dos fantasmas

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Guilhotina!

O desalmado caminha, sentindo cada pedra do seu caminho,
Condenado por ver e gostar,
Pelo toque pelo respirar,
A sua amada possessa pela tristeza entre centenas que gozam.
"Réu, a sentença foi dita"
E com nada mais se depara, a não ser com um monstro,
Onde o sol incide e não o faz mais bonito.
As suas ultimas palavras foram assumidas pelo seu ultimo choro.
Já sem esperança deita a cabeça,
Quando ouve um som, um serpentiar!
Agora está a roda!
Mais leve e sem enjoo pára em frente à triste amada.
Esta já não é o que era, a cara estava pálida como quem beijou a morte,
mas não importava, ainda a amava!
Enquanto tinha consciencia, o tremer leve dos labios,
desenhou uma palavra no ar rarefeito.
De nada se apercebeu, por nada morreu.



domingo, 11 de janeiro de 2009

Fernando Pessoa Ortónimo



Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.


Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei


Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,


Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,


Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.


E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.


Fernando Pessoa


E aqui…Eu vi, vi por palavras que a angústia me corrói neste desesperançar de viver-morrer, num amontoado de pensamentos sem o mínimo vislumbre, sem uma fugaz escapatória quase possível… E o aprisionamento a este corpo atrofia-me a nesga quase possível da aragem para o lado de lá…Enquanto jovem que sou, procuro o meu ser-ter-estar, um propósito sem propósito, um rumo, zumbido de zéfiro, ou o decifrar a nuvem que tudo obnubila.As palavras mostram-escondem que a minha deriva é contínua… na busca de o não sei o quê… Como posso anular o meu ser antes mesmo de o conhecer, até mesmo, desejar a morte? Não sou suicida, apenas quero um bilhete de ida, de “barco” para o “porto” e não voltar…Vejo muros pintados pela espessa tinta das sombras: elas rodeiam-me, e eu, sem saber porquê, continuo à deriva, em fuga. Então, por que existo? Há sentido? Há razão? A minha loucura não é suficiente para entender isto e aquilo e aqueloutro?Para onde quer que vá não haverá o que procuro e morrerei como cheguei ao mundo - sem sentido.Olharei, sem nada ver; apalparei sem nada sentir; beberei sem parar; respirarei o ar viciado de uma luz tão ténue que nem a vejo; abrirei os ouvidos sem nada escutar e todo o meu corpo está alquebrado pela fúria da palavra.